quinta-feira, agosto 04, 2005

Vian



"Amadis Dudu seguia sem convicção nenhuma pela estreita viela que representava o atalho mais longo para se chegar à paragem do autocarro 975. Todos os dias tinha de apresentar três bilhetes e meio, pois descia, com o autocarro em andamento, antes da paragem; tacteou o bolso do colete para ver se ainda tinha algum bilhete. Tinha. Viu um pássaro empoleirado num monte de lixo, a bicar em três latas de conserva vazias, o que conseguia reproduzir o início dos Barqueiros do Volga; parou, mas o pássaro deu uma fífia e, furioso, levantou voo, resmungando, entre bico, umas obscenidades à pássaro. Amadis Dudu retomou o caminho, cantando o resto da música; mas deu também uma fífia e começou a praguejar."

Boris Vian, O Outono em Pequim, Livos Unibolso (tradução de Luiza Neto Jorge), p. 7.

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