segunda-feira, junho 25, 2007

Joyce Carol Oates



Lamentando-a, talvez. Ao ver-lhe aquela expressão no olhar. A Morena mudou de assunto & começou a falar de homens. Espirituosa & cruel. Homens que ambas conheciam. Patrões dos estúdios, produtores. Actores & realizadores & argumentistas & outros obscuros habitantes marginais do mundo do cinema. Claro que fodera com Z «durante a minha ascensão. Quem não fodeu?» Anos atrás, fodera com «o Shinn, aquele judeu anão e sexy» e ainda hoje tinha saudades de I. E. E Chaplin. Na verdade, Charlie pai e Charlie filho. Edward G. Robinson pai e Edward G. Robinson filho. «Também andou com o Cass e o Eddy G, Norma, hã?» Sinatra, com quem fora casada uns poucos e tremidos anos. Frankie, que perdera o seu respeito quando tentara matar-se com comprimidos para dormir. «Por amor. Por mim. Alguém chamou uma ambulância, não eu, & salvaram-no Eu disse-lhe: “Seu merdas. São as mulheres que se matam com comprimidos. Os homens enforcam-se ou dão um tiro nos miolos.” Nunca me perdoará, mas há outras mulheres a quem perdoará ainda menos.» A Actriz Loura disse hesitantemente que admirava muito a voz de Sinatra. A Morena encolheu os ombros. «Não é mau. Quando se gosta daquelas baboseiras sentimentais de branco. Mas eu prefiro a música negra, o jazz & o rock. O Frankie era okay a foder. Quando não estava bêbedo ou drogado. Era apressado. Um esqueleto palpitante com um caralho entesado. Mas nada como aquele italiano amigo dele... como é que se chama? Foi casada com ele durante algum tempo, Norma. Os jornais falavam todos de vocês.» Acotovelando a Actriz Loura, pis­cando o olho: «"O Yankee Slugger." Gostava que o tratasse assim. Temos de reconhecer que os italianos são homens dos pés à cabeça, hã?»
A expressão do rosto da Actriz Loura! À distância, tudo isto estava a ser observado & conservado & seria um dia recordado indistintamente, mas classicamente, a preto & branco. A Morena, a beldade sexy e renegada de seda roxa rindo & pegando com as duas mãos no rosto chocado de bebé da Actriz Loura e beijando-a em cheio na boca.
Essência de Morena, essência de Loura.

A Monroe queria ser uma artista. Foi das poucas pessoas que conheci que levava aquela merda toda a sério. Foi isso que a matou, mais nada. Queria ser reconhecida como uma grande actriz e queria ser amada como uma crian­ça e obviamente não se podem ter as duas coisas.
Tem de se escolher o que se quer mais.
Eu não escolhi nem uma coisa nem outra.

Joyce Carol Oates, Blondie, Editorial Notícias, p. 530 (tradução de Maria Nóvoa)

My Heart Belongs to Daddy