quarta-feira, julho 18, 2007

Cormac McCarthy


Outrora existiam trutas nos regatos das montanhas. Víamo-las para­das na corrente cor de âmbar, com a fímbria branca das barbatanas a ondular mansamente na água veloz. Cheiravam a musgo quando as se­gurávamos na mão. Luzidias e musculosas e a contorcerem-se. No dor­so tinham desenhos vermiformes que eram mapas do mundo no seu devir. Mapas e labirintos. De uma coisa que não podia ser recriada. Cu­ja harmonia não podia ser reposta. Nos fundos vales onde as trutas vi­viam, todas as coisas eram mais antigas do que o homem e nelas res­soava um mistério.

Cormac McCarthy, A Estrada, Relógio D'Água, p. 187 (tradução de Paulo Faria).