quarta-feira, agosto 17, 2005

Rilke



Mas a ti, que eu conhecia, a ti quero agora
como a uma flor de que nem sei o nome,
lembrar mais uma vez pra te mostrar aos outros,
roubada, bela amiga do invencível grito.

Bailarina primeiro, que súbito o hesitante
corpo deteve, como a juventude em bronze
fundida; de luto, à escuta. - Do alto
cai música no alterado coração.

A doença era perto. Preso já das sombras,
o escuro sangue impelia; mas, suspeitado
de leve, jorrou em primavera natural.

Sempre e sempre, de sombra e queda interrompido,
brilhou terrestre. Até que após tremendo golpe
entrou na porta sem consolo aberta.

Rainer Maria Rilke, Sonetos a Orfeu (XXV - Primeira Parte), Edições ASA (tradução de Paulo Quintela)

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