
"Ela range os dentes no sono; quando acorda ao amanhecer um olhar de fogo claro, como uma lâmpada de sódio. Nua e fora do seu casulo tomo a ninfa nos braços, tirando um bilhete branco na lotaria do amor. Um doutor em literatura como olhos de betão. A suave maquinaria da psicoconversa. Passeio nos jardins públicos como uma lebre tinhosa. Gordos traseiros esquivos de mamãs e carrinhos de criança. Nas montras das lojas olho ansiosamente para a minha própria beleza - mas tudo o que vejo é um homenzarrão inchado que sofre obviamente de hemorróidas, afundado no seu sobretudo como um pato-americano. Ouvi falar de um velho artista que montou o crânio da amante sobre uma almofada de veludo com jóias a servir de olhos.
É de noite agora, noite fechada, e o meu crânio está cheio de resmungos cinzentos."
Lawrence Durrell, Monsieur ou o Príncipe das Trevas, Difel (tradução de Daniel Gonçalves), p. 195.
É de noite agora, noite fechada, e o meu crânio está cheio de resmungos cinzentos."
Lawrence Durrell, Monsieur ou o Príncipe das Trevas, Difel (tradução de Daniel Gonçalves), p. 195.
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