
L'Homme au verre de vin
numa sala do louvre dedicada à
pintura espanhola há um quadro
atribuído à escola portuguesa
de quatrocentos. é o
homem do copo de vinho, ou, dir-se-ia,
do copo de solidão; e é possível
que seja flamengo e triste. mas tomemos
a origem indicada como boa
para esse homem que vai entrar na noite,
gravemente na noite, como numa
parda natureza. eu nunca pude
obter um slide dessa imagem,
um bilhete-postal, ou quaisquer dados
para situar aquela estranha placidez
de quem vai encontrarno vinho umas verdades, de
alguém que vou visitar de vez em quando,
para beber um copo em companhia.
é possível que fosse na flandres
algum feitor discreto e rico ou que em lisboa fosse
segurando uma alcachofra minuciosa
que o pintor depois terá mudado
para tornar mais intenso o sentimento
ou mais real a sua digna sede.
Vasco Graça Moura, Antologia dos sessenta anos, Edições ASA, 2002, p. 37.


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