
Eu nunca havia estado a sós, num espaço fechado, com um homem. Percebi que raiava o interdito quando, após carícias, ele começou a despir-se. Era a primeira vez que via um homem nu. As formas masculinas – as nádegas verticais, o peito com pêlos, as pernas secas – eram mais belas do que imaginara. Deitei-me no sofá, olhando o deus que, sobre mim, se reclinava. Se descobrira o sexo, ignorava as consequências. Ou, pelo menos, não queria pensar nelas. Foi com espanto que olhei o rosto atemorizado do Carlos, quando, algumas semanas depois, lhe comuniquei que «a história» não me aparecia, o que, sendo o meu corpo de uma regularidade impecável, poderia estar ligado a algo que convinha descobrir. Foi ele que me anunciou estar grávida. Eu havia, sem dúvida, pecado por pensamentos, palavras e obras, mas jamais imaginara que Deus cobrasse um preço tão elevado por uma única transgressão.
Maria Filomena Mónica, Bilhete de Identidade, Alêtheia Editores, 2005, p. 168.
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