sábado, janeiro 06, 2007

Leopoldo M. Panero


O lamento de José de Arimateia

Não suporto a voz humana,
mulher, tapa os gritos do
mercado e que não chegue
até nós a memória do
filho que nasceu do teu ventre.

Não há outra coroa de
espinhos
que as recordações
que se cravam na carne
e fazem uivar como
uivavam

no Gólgota os dois ladrões.


Mulher,
não te ajoelhes mais ante
o teu filho morto.
Beija-me os lábios
como nunca fizeste
e esquece o nome
maldito
de Jesus Cristo.

Dança na neve
mulher maldita
dança até que teus pés
descalços sangrem,
o Sabbath começou

e nas casas tranquilas
dos homens
há muitos mais lobos
que aqui.
Depois de dançar toca

a neve: verás que é boa

e que não queima tuas mãos

como a fogueira

em que tanta beleza
arderá um dia.

Partindo dos pés

até chegar ao sexo
e arrasando os seios

e chamuscando o cabelo

com um rangido como o de
moscas ao estalar na

vela.
Assim arderá o teu corpo
e do Sabbath restará
apenas uma lágrima
e o teu uivo.

Leopoldo María Panero, Poemas do manicómio de Mondragón, Alma Azul, 2003, pag. 53 (tradução de Jorge Melícias)

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