
O lamento de José de Arimateia
Não suporto a voz humana,
mulher, tapa os gritos do
mercado e que não chegue
até nós a memória do
filho que nasceu do teu ventre.
Não há outra coroa de
espinhos que as recordações
que se cravam na carne
e fazem uivar como
uivavam
no Gólgota os dois ladrões.
Mulher,
não te ajoelhes mais ante
o teu filho morto.
Beija-me os lábios
como nunca fizeste
e esquece o nome
maldito
de Jesus Cristo.
Dança na neve
mulher maldita
dança até que teus pés
descalços sangrem,
o Sabbath começou
e nas casas tranquilas
dos homens
há muitos mais lobos
que aqui.
Depois de dançar toca
a neve: verás que é boa
e que não queima tuas mãos
como a fogueira
em que tanta beleza
arderá um dia.
Partindo dos pés
até chegar ao sexo
e arrasando os seios
e chamuscando o cabelo
com um rangido como o de
moscas ao estalar na
vela.
Assim arderá o teu corpo
e do Sabbath restará
apenas uma lágrima
e o teu uivo.
Leopoldo María Panero, Poemas do manicómio de Mondragón, Alma Azul, 2003, pag. 53 (tradução de Jorge Melícias)
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