
Se o não saber teu nome é adormecer-te
na véspera da minha morte no meu peito
pra que a manhã, acordando no meu leito,
me encontre rígido e frio por conter-te,
dá-me o silêncio terreno mais perfeito:
esse é o rosto com que anseio conhecer-te.
Qualquer palavra seria o amanhecer-te,
roubando à noite o teu perfil desfeito.
Teu nome é claridade em que te ocultas,
madrugada com que iluminas minha boca:
nupcial é o azul do dia em que te avultas.
Afogando-me em teu sangue me destruo:
singro nas veias da fonte que provoca
a solidão que de teus olhos eu construo.
José Bento, Silabário, Relógio D'Água, 1992, p. 231
Sem comentários:
Enviar um comentário