domingo, dezembro 17, 2006

José Bento


Se o não saber teu nome é adormecer-te

na véspera da minha morte no meu peito

pra que a manhã, acordando no meu leito,

me encontre rígido e frio por conter-te,


dá-me o silêncio terreno mais perfeito:

esse é o rosto com que anseio conhecer-te.

Qualquer palavra seria o amanhecer-te,

roubando à noite o teu perfil desfeito.


Teu nome é claridade em que te ocultas,

madrugada com que iluminas minha boca:

nupcial é o azul do dia em que te avultas.


Afogando-me em teu sangue me destruo:

singro nas veias da fonte que provoca

a solidão que de teus olhos eu construo.



José Bento, Silabário, Relógio D'Água, 1992, p. 231

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