terça-feira, dezembro 12, 2006

Javier Marías


El hombre sentimental é uma história de amor em que o amor já não se vive mas se anuncia e recorda. Pode isto acon­tecer? Algo como o amor, que é sempre urgente e inadiável, que requer a presença e a consumação ou a consumição ime­diata, pode anunciar-se sem que exista ainda, ou recordar-se realmente quando já não existe? Ou será que o próprio anún­cio e a mera recordação formam,e ainda respectivamente, parte desse amor? Ignoro-o, mas acredito que o amor está em larga medida baseado na sua antecipação e na sua memória. É o sentimento que exige maior dose de imaginação, não só quando se intui, quando o vemos chegar, e não só quando quem o experimentou e perdeu tem necessidade de o expli­car, mas também enquanto o próprio amor se desenvolve e tem plena vigência. Digamos que é um sentimento que exige sempre algo de fictício além daquilo que na realidade conse­gue. Dito por outras palavras, o amor tem sempre uma pro­jecção imaginária, por tangível ou real que o pensemos num momento dado. Está sempre por realizar; é o reino daquilo que pode ser. Ou então daquilo que poderia ter sido.


Javier Marías, Literatura e Fantasma, Relógio d'Água, 1998, p. 72 (tradução de Francisco Vale)

2 comentários:

Anónimo disse...

Um blog muito interessante!Acho que alguém le leu este texto... :)

Anónimo disse...

Correcção ao comentário anterior: "Alguém me leu..."
É pena que um dos blogs indicados nos links- O Animal Moribundo, com título tão promissor, não tenha tido seguimento...ainda...??!!!