
El hombre sentimental é uma história de amor em que o amor já não se vive mas se anuncia e recorda. Pode isto acontecer? Algo como o amor, que é sempre urgente e inadiável, que requer a presença e a consumação ou a consumição imediata, pode anunciar-se sem que exista ainda, ou recordar-se realmente quando já não existe? Ou será que o próprio anúncio e a mera recordação formam, já e ainda respectivamente, parte desse amor? Ignoro-o, mas acredito que o amor está em larga medida baseado na sua antecipação e na sua memória. É o sentimento que exige maior dose de imaginação, não só quando se intui, quando o vemos chegar, e não só quando quem o experimentou e perdeu tem necessidade de o explicar, mas também enquanto o próprio amor se desenvolve e tem plena vigência. Digamos que é um sentimento que exige sempre algo de fictício além daquilo que na realidade consegue. Dito por outras palavras, o amor tem sempre uma projecção imaginária, por tangível ou real que o pensemos num momento dado. Está sempre por realizar; é o reino daquilo que pode ser. Ou então daquilo que poderia ter sido.
Javier Marías, Literatura e Fantasma, Relógio d'Água, 1998, p. 72 (tradução de Francisco Vale)
2 comentários:
Um blog muito interessante!Acho que alguém le leu este texto... :)
Correcção ao comentário anterior: "Alguém me leu..."
É pena que um dos blogs indicados nos links- O Animal Moribundo, com título tão promissor, não tenha tido seguimento...ainda...??!!!
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